Texto por Visão (Site de notícias de Portugal) – Os alertas de José Palma-Oliveira, docente de Psicologia Ambiental na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e perito da Comissão Europeia para a Diretiva do Ruído
Confira também no blog da Fine Sound: 4 sinais claros de que sua loja precisa de sonorização ambiente
Se a poluição sonora é um problema de saúde pública, porque não parece estar a ser levado a sério?
Sim, o ruído é uma epidemia, embora durante muitos anos tenha havido um boicote das autoridades, caso da própria Organização Mundial da Saúde e dos ministérios da Saúde, que bloquearam os resultados dos estudos feitos nas últimas décadas por entenderem que eram politicamente desconfortáveis. Mas os novos estudos são absolutamente demolidores e é impossível esconder mais. As estimativas feitas, e só com os dados da Europa Ocidental, apontam para que anualmente haja mais de um milhão de anos perdidos (mortes e anos de vida saudável, designados por disability adjusted life years). Mesmo com pressupostos muito conservadores, são 61 mil anos perdidos por doenças cardíacas, 900 mil anos em perda de vida saudável por distúrbios de sono, que não chega a ser profundo e reparador, e 45 mil por distúrbios cognitivos de crianças.
Isso acontece por o nosso corpo não se adaptar?
O ruído não é uma causa direta de morte, como aliás a poluição atmosférica não o é. Morre-se e perdem-se anos de vida saudável das complicações de saúde que resultam de uma resposta de stresse aguda se converter em crónica. O problema está no desgaste: quanto menos se conseguir controlar a origem do estímulo e confrontá-lo, maior o risco de danos físicos e psicológicos. No início, as pessoas até podem ficar mais ativas na tentativa de controle, mas se os esforços não funcionarem surge o chamado desamparo aprendido, que leva ao isolamento social. Seguem-se as complicações psico-fisiológicas: primeiro vem o incómodo, depois a desregulação hormonal e a hipertensão até aos problemas de coração.
O que está a ser feito para mudar este cenário?
A Diretiva Europeia do Ruído, feita no início dos anos 2000, não apresenta limites porque os países europeus não quiseram. Deviam ter sido definidas as zonas calmas. Defendi, juntamente com os países nórdicos, que essas zonas podiam ser aumentadas, em vez de se classificar apenas as zonas ruidosas. Temos uma política muito tímida em relação a isso.
Como se resolve o barulho nos locais públicos?
Isso faz-se pelo consenso e um trabalho de zonamento claro, com juntas de freguesia, câmaras e a população. E solucionar conflitos de utilização do espaço, para que não haja contradições tão frequentes como residências e bares na mesma zona, por exemplo.
O que é pior: a ditadura do ruído ou a ignorância?
Quando colaborei no Plano Diretor de Lisboa e na Diretiva Europeia, foi gritante ver que os engenheiros, arquitetos e médicos não acreditavam nos estudos. O ruído é um veneno mortal, com a mesma toxicidade de outros agentes tóxicos e mortais, como os cancerígenos.
Fonte original do texto: Visão
Confira também no blog da Fine Sound: Maus hábitos e poluição sonora podem causa perda auditiva precoce