Texto por El País – Em maior ou menor medida, quase todos nós lidamos com a poluição sonora. Diante da impossibilidade de escaparmos dela, podemos ensinar nosso cérebro a trabalhar sob sua incômoda presença.
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O inimigo convive conosco. É invisível, mas algumas vezes é tão incômodo que impede nossa concentração. A poluição sonora é a segunda causa de doença por motivo ambiental, só atrás da atmosférica. Entre as afecções que provoca não estão somente os problemas auditivos, também se destacam o estresse e a ansiedade.
Se o barulho não nos permite dormir, os ritmos biológicos do sono se alteram, o que causa insônia, cansaço, irritabilidade, redução do rendimento e da capacidade de atenção. Um círculo vicioso. Os especialistas destacam que não existe um método infalível que permita nos concentrar com barulho, mas se ele é contínuo, nosso cérebro aprende a trabalhar com ele.
A União Europeia fixa como limite os 55 decibéis durante o dia e 50 de noite, ligeiramente abaixo das recomendações da Organização Mundial da Saúde. De acordo com esse valor, um em cada quatro espanhóis suporta níveis de barulho superiores aos permitidos, de acordo com o Relatório de Ruído e Saúde DKV-GAES, publicado em 2018. Na Espanha, a Lei de Barulho foi aprovada em 2003, ainda que o decreto completo tenha surgido em 2007. Nele se estabelece um método para calcular o impacto sonoro, mediante uma equação que leva em consideração diversos parâmetros como o uso do local contíguo. A legislação estatal só se aplica a determinados emissores acústicos, como os comércios, a indústria, as estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Se o barulho é causado, por exemplo, por vizinhos, animais de estimação e atividades de lazer, deve se acionar o município e a legislação autônoma.
Vivemos submersos em barulho. Todos nós já nos encontramos na situação de ter que trabalhar, ler e estudar em um entorno em que existe muito barulho que nos distrai e dificulta a concentração. Na maioria dos casos, o esforço para consegui-lo é inútil e pode chegar a nos desesperar. Os psicólogos afirmam que existe uma clara relação entre o barulho de fundo e o estresse. Para combatê-lo, alguns especialistas recomendam usar tampões nos ouvidos, organizar o trabalho de maneira que não coincida com as horas em que o barulho é mais intenso, isolar o espaço que usamos e fazer um descanso.
Jaime Adán, psiquiatra da Ruber Internacional, frisa que é “tremendamente complicado” se concentrar com barulho. Caso isso ocorra, aconselha fugir a outro lugar mais tranquilo. Os estudantes vão às bibliotecas, espaços onde quase não existem estímulos externos capazes de captar sua atenção. Adán reconhece que um dos fatores que mais influenciam é a motivação: “Quanto mais nos interessa o que fazemos, mais prestamos atenção”. Por isso, o barulho excessivo pode chegar a distrair um adolescente que estuda para o vestibular e, por outro lado, esse mesmo som não o afeta ao jogar videogame.
Muitos trabalhadores não têm a possibilidade de mudar de local, de modo que estão condenados a realizar seu serviço com barulho. É o caso dos operários que usam máquinas e o dos jornalistas. A redação é um fervedouro de estímulos externos. Apesar disso, esses profissionais conseguem realizar seu trabalho com sucesso. Não é simples acaso, e sim fruto do costume. Nosso cérebro é um músculo e pelo exercício consegue evitar tudo aquilo que lhe é incômodo e se concentrar em tudo o que verdadeiramente importa. Essa capacidade requer tempo e prática, mas é verdade que existem fatores biológicos determinantes. Da mesma forma que existem pessoas com olhos azuis e mais altas do que outras, também há os que têm relativa facilidade para se concentrar em ambientes hostis.
A concentração surge como resultado de um complexo processo cerebral. Depende de circuitos dopaminérgicos pré-frontais. A dopamina, a nível neurobiológico, funciona como um neurotransmissor que ativa os receptores celulares, dando lugar ao impulso elétrico liberado na sinapse, a associação entre neurônios. Os especialistas frisam que é possível aprender a neutralizar o barulho. O cérebro só precisa se exercitar. Graças a sua plasticidade, pode mudar sua estrutura e seu funcionamento, o que o capacita para reagir à situação do entorno.
Os que procuram uma solução rápida podem tentar ouvir música. Para muita gente, entretanto, esse recurso é insuficiente, porque também atrapalha sua concentração e porque as melodias lhes produzem sentimentos que dificultam manter a atenção. Outra possibilidade é utilizar o que conhecemos por ruídos brancos, ou seja, os sons planos e constantes que se confundem com o som ambiente. Escutamos esses ruídos diariamente e por isso sequer reparamos neles: a chuva, as ondas do mar e o centrifugar da máquina de lavar.
A Universidade de Chicago realizou em 2012 um estudo que comprovou que um nível elevado de som ambiente prejudica a criatividade. Um nível moderado, entretanto, por volta dos 70 decibéis, favorece a concentração em comparação com um nível baixo. O motivo: um nível moderado de som ambiente aumenta a dificuldade de processamento e isso induz um nível de interpretação mais alto, o que traz maior criatividade.
Fonte original do texto: El País
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